domingo, 6 de dezembro de 2009

Depoimentos

Depoimento da professora Giseli Martins de Souza


As discussões acerca da deficiência visual ainda são muito relevantes se relacionado a complexidade da situação, principalmente no que tange a educação escolar. Pois infelizmente nós professores ainda estamos muito despreparados para lidar com essa situação. Quero aqui lembrar uma situação que vivi em sala de aula com dois alunos com deficiência visual. Um deles apresentava visão parcial, esse aluno tinha uma grande dificuldade de aceitar esse problema, depois de muitas conversas com ele e com o apoio da família e profissionais especializados conseguimos fazer com que este aluno utilizasse material ampliado para facilitar a leitura e escrita. No caso do segundo aluno não tive muito sucesso, pois este enxergava muitíssimo pouco e a escola não dispunha de material adequado para trabalhar com esse aluno muito menos profissionais especializados. Dessa forma, vejo que a inclusão dos deficientes visuais ainda precisa ser bem repensado, pois não basta simplesmente colocar esses alunos na escola sem preparar e adequar a escola e os profissionais para recebê-los.



Depoimento de Jairo da Silva

Olá!
Meu nome é Jairo da Silva, nasci em 11-12-1977, em Santa Catarina, no município de Florianópolis. Vivi desde o nascimento em Palhoça, na Grande Florianópolis.
Nasci com uma deficiência visual (Retinóis pigmentar). Com baixa visão, as dificuldades na sociedade foram muitas. No meu bairro, o preconceito foi gigantesco...
No colégio, não foi diferente, reprovei duas vezes na primeira série e uma vez na segunda, e graças a umas aulas de reforço de uma professora dedicada, passei na terceira série, depois de ficar em recuperação. Na Quarta série, a dificuldade aumentou. Reprovei duas vezes.
Da quinta a oitava série, foi um desastre. O colégio não tinha qualificação para trabalhar com cegos. Passei por momentos terríveis. Como não sabia como agir, ficava calado. A Fundação Catarinense de educação especial - FCEE - mantinha uma sala de recurso que, teoricamente, dava suporte para o colégio, que por sua vez nos auxiliava. Isso na teoria, porque na prática... O colégio me deu o certificado, mesmo sabendo que eu não tinha o conteúdo necessário.

http://ube-164.pop.com.br/repositorio/35707/meusite/jairotxt.htm


Depoimento de Sandra Estêvão Rodrigues

Devido a um Glaucoma congênito, que me permitia apenas uma visão aproximada a um décimo do que habitualmente se considera normal, tive necessidade, desde que comecei a ler até aos meus 17 anos, de recorrer a ampliações e de utilizar uma lupa manual bem pesadinha. Esta foi então a minha primeira Ajuda Técnica, que me acompanhou até ao final do Ensino Secundário e que me permitia devorar os muitos livros que ia buscar à biblioteca itinerante Gulbenkian.
Pelo mesmo motivo, a partir daquela idade, fiquei apenas com a visão da luz e de algumas cores. Assim, vi-me obrigada a guardar a minha velha e tão querida lupa e fiquei uns anos restrita a uma máquina de escrever braille e ao pouco material de leitura disponível neste método de escrita, a uma máquina de escrever tradicional, a um gravador e aos livros em cassetes áudio. Digo restrita porque outra coisa não poderia ser, conhecendo hoje as potencialidades do computador, que me está acessível graças a um programa de leitura de ecrã. Não posso esquecer o meu espanto quando pela primeira vez ouvi um sintetizador de voz e como fiquei incrédula face à possibilidade de algum dia entender aquela voz que me soava tão estranha. Agora é uma companhia familiar muito agradável.
Quando há oito anos comecei a utilizar o computador, estava longe de imaginar as suas virtudes. Naquela altura, trabalhava ainda no antigo e esquecido MS-DOS e o programa Word Perfect pareceu-me já uma maravilha, comparado com o que até aí dispunha. Estava eu a terminar a minha Licenciatura em Psicologia e apreciei então a possibilidade de escrever o meu relatório de estágio, com as vantagens de um processador de texto. No entanto, a internet era ainda uma miragem.
Foi só três anos depois que comecei a utilizar as ferramentas disponíveis em ambiente Windows. É graças a esse fabuloso avanço que hoje posso desempenhar as minhas funções como coordenadora do Gabinete de Apoio ao Estudante com Deficiência da Universidade do Minho, no qual trabalho desde o meu estágio curricular.
Foi também graças a isso que hoje, aos 30 anos, terminei a minha dissertação de Mestrado. Só lamento não ter tido esta ferramenta de trabalho durante a Licenciatura. A que árduos trabalhos e a que dificuldades teria estado poupada!
Hoje, o computador é o objecto que mais prezo e que mais está presente no meu dia-a-dia. Não só por tudo o que já disse, mas também porque posso continuar a usufruir com maior amplitude do meu hobby favorito: a leitura.
Reconheço também a ajuda da minha linha braille, sobretudo quando se trata de participar em reuniões de trabalho ou de falar em público, já que a minha pouca rapidez de leitura em Braille faz-me preferir a voz sintetizada para as restantes tarefas.
Com o desenvolvimento das tecnologias que permitem o acesso de pessoas como eu ao computador, fica transposta uma das grandes barreiras no nosso acesso à informação e consequentemente ao mercado de trabalho. Mas, parece-me que está ainda por resolver outra barreira importante: as crenças e atitudes sobre a deficiência em geral, e sobre a cegueira em particular, que conduzem a uma tão grande resistência dos empregadores em dar oportunidades e em proporcionar desafios a quem sofre destas condições.
Felizmente, tenho um trabalho acessível e que me dá prazer. No entanto, a minha própria experiência e a de outros que comigo a têm partilhado, mostram-me como neste campo existe ainda muito a fazer.

http://www.lerparaver.com/amigos/sandra.html

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